Somente eu sei como foi difícil
pisar no campo do Sumaré no primeiro dia de treino.
Eu estava afastado do time, por
motivos pessoais há dois anos e a maioria dos atletas não me conhecia.
Para se treinar um time eu só
precisava de um cargo e um apito, mas eu queria formar uma família, e ela já estava sendo formada a algum tempo. Mas para para fazer parte disto, era preciso conquistar o respeito de pelo menos noventa por cento do grupo.
Então o que fazer? Geralmente, o que fiz foi ficar na minha e pouco a pouco deixar
ser conhecido: pelas atitudes, pelo tratamento e pelo meu modo de fazer as
coisas e de incentivar a cada um.
Mas o bom era que eu não estava
sozinho. Comigo havia Caio Ramos, que no início ficou mais calado e no apoio, mas
que depois com a conquista deste gostar pelos amigos que chegavam, foi ficando
cada vez mais confiante.
Minha chegada foi marcada pela
desconfiança que vinha de alguns em minha capacidade e que se refletia em mim
mesmo, sob reações adversas de adaptação.
Com o tempo fui conhecendo as pessoas que
estavam vindo aos treinos. Descobri seus valores, senti suas alegrias a cada
movimento conseguido, vi suas frustrações ao desabarem pela dor ou pelo
cansaço... Senti a vontade dos veteranos e dirigentes do time, que não só o
projeto desse certo, mas que cada um tivesse a sua vitória pessoal de auto superação.
Então, me sentindo aceito por
todos do jeito que eu sou, agradeço de coração a confiança que é depositada em
mim.
Hoje quando chego à arena,
respiro fundo, olho em frente e peço para que todos os deuses das antigas
arenas dos gladiadores romanos, principalmente ao Deus invisível, que Paulo de
tarso ensinou a maioria a amar tanto, que me abençoem e me façam sair para casa
com a sensação do dever cumprido.
Um homem vale muito mais do que
ele carrega entre as pernas, pois sexo todo mundo faz, mas hombridade, senso de
justiça, imparcialidade e caráter é algo que tem de ser perseguido todos os
dias e muitas vezes neste ponto me sinto um derrotado.
Pensando em todas as coisas que
venho guardando como princípios em minha vida, tais como: liberdade de
expressão (de ações a sentimentos), direito a felicidade e aprendizado no dia a
dia, sempre buscando o autoconhecimento do corpo e mente, é que digo a todos os
gladiadores neste momento:
Vocês são muito mais do que
pensam e vocês podem muito mais do que os outros pensam.
Tenho provas de que podemos muito mais, quando olho todos os treinos para Tarcísio e lembro de quando ele era rejeitado, de uma das frases que me dizia:
"Um dia eu vou formar um time em que todos poderão jogar!"
Hoje, bato no peito e digo: Não fui pai biológico de ninguém, mas tenho filhos distantes: Igor e Ivo; de criação: Sthanney e Iago Neston e presentes todo o tempo: Tarcísio, Johnatan e Lucas Globin. Com vocês eu chorei a cada dia dos pais
que passava, época em que fico um pouco depressivo, quando eu me lamentava de
um Deus que me fez ficar incapaz de ter filhos, enquanto muitos caras tinham
filhos e os abandonavam. Foi justamente através de vocês, que hoje me sinto pai
de cada um que está nesta grande família chamada GLADIADORES.
Junto a vocês me sinto bem e através de vocês me sinto vivo!
Sinto-me muito honrado em
poder, nem que seja por alguns momentos, fazer parte da vida de cada um.
Eu sou muito orgulhoso de todos
vocês.
Gladiadores não é só um time, é
um aprendizado para a vida!
A cada derrota, a cada queda,
aprenda a levantar e se entregar cem por cento...
...E foram muitos treinos no campo do Sumaré, alguns com ótimas jogadas.
Mas esta já é uma outra história...